Transparência
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ete_mulemba.jpg Foi na Estação de Tratamento de Esgoto de Mulembá que a equipe do Globo Repórter fez as gravações exibidas no dia 17 de julho de 2009.  O ofício é tradição em Vitória. Há mais de cinco gerações as paneleiras fazem do local um grande ateliê. A arte de moldar o barro, elas aprenderam com as avós e com as mães. Eu trabalho com essas panelas há mais de 30 anos, diz a paneleira Eronildes Menezes.

A matéria-prima, o barro, está bem à mão. Elas retiram de um manguezal. Do talento e da agilidade, depende o resultado do trabalho de cada uma das mulheres, em Vitória no Espírito Santo. São mais de 200 paneleiras.

A minha produção mensal é na base de umas 500 peças, afirma Eronildes Menezes. As peças ainda quentes têm que ser açoitadas. A paneleira Eronildes Menezes diz de onde vem o líquido que fica dentro das panelas ainda quentes. Esse líquido é extraído do pé do manguezal, do mangue vermelho. Ele é colocado na água e vira o tanino. É o tanino que dá coloração e impermeabiliza a panela, explica.

Mas, não faz muito tempo, uma notícia deixou estas mulheres artesãs muito intrigadas e até mesmo assustadas. O globoreporter.jpg motivo de tanta preocupação era a estação de tratamento de esgotos, que seria construída bem pertinho do mar, justamente, o mar que fornece tudo o que as paneleiras precisam para trabalhar.

A nossa preocupação era de perder o barro, era de contaminar o barro, e ninguém querer comprar a panela, diz a paneleira Marinete Correia Loureiro. Foi um susto muito grande, mas um susto resolvido, ressalta. E quase totalmente resolvido já está um grande problema da capital do Espírito Santo: o tratamento do esgoto. A estação, que fica a cinco quilômetros do centro, vai ser a primeira no Brasil a tratar 100% do esgoto produzido pela população. Hoje, só faltam menos de 20%.

Por tubulações, são despejados na estação de tratamento 210 litros de esgoto bruto por segundo, que chegam completamente sujos. Depois de todo o tratamento, ele vai para um tanque. Dele, a água vai para a Baía de Vitória. E o que é importante: completamente desinfectada.

O processo de transformação do esgoto em água própria é um dos mais modernos do mundo. Durante todo o processo, não se percebe nenhum cheiro forte de esgoto, como é comum em outras estações. A razão é que o processo na estação de Vitória (ES) é biológico.

Nós temos aqui alguns micro-organismos que concentramos nos tanques. Com a presença do oxigênio, se forma um ambiente muito propício com alimento. E eles crescem muito rápido. No crescimento, eles se alimentam da matéria orgânica do esgoto e clarifica a água, explica o gerente da Cesan, Dalton Ramaldes.

É quando entra em ação tecnologia de ponta. Uma micro câmera detecta qualquer impureza que tenha resistido ao primeiro tratamento. Após, a água passa por um túnel, onde ela é desinfectada por raios ultravioleta, os mesmos raios usados para esterilizar instrumentos cirúrgicos.

Segundo o gerente da Cesan, esse novo tratamento representa um avanço para o Brasil. O nosso país está localizado na região dos trópicos o que favorece o tratamento biológico. De certa forma, ele é mais barato, porque eu não uso o produto químico. Então, o nosso custo com relação aos tratamentos químicos é muito mais barato, ressalta Dalton Ramaldes.

Nem é preciso ir muito longe para ver o que já mudou depois da estação de tratamento de esgoto. Na Baia de Vitória, há água boa e peixes e mariscos saudáveis. Tem mais emprego e a renda aumenta no fim do mês.

São famílias inteiras que dependem do que tiram do mar. Se a estação de tratamento acabou com o medo do esgoto contaminar os peixes e os mariscos, fez crescer o entusiasmo das desfiadeiras de siri das caieiras. Agora, elas querem o mar ainda mais limpo.

É muito importante a limpeza da água, porque, se o lixo vai para lá e acaba com tudo isso que a gente ama tanto, então morre a Ilha das Caieiras. De onde a gente vai tirar a nossa sobrevivência?, diz a desfiadeira Luisa Helena da Silva.

A sobrevivência não é a delas, mas de toda a população de Vitória, privilegiada por ter o esgoto tratado com eficiência e a garantia de estar bem longe das doenças provocadas pela contaminação das águas.

Texto extraído do site do Globo Repórter, após veiculação da reportagem sobre os investimentos em tratamento de esgoto no Espírito Santo, por meio da Cesan. Segundo a reportagem, a Estação de Tratamento de Esgoto de Mulembá, que fica no bairro Joana D'arc, será a primeira no Brasil a tratar 100% do esgoto da população. Hoje, só faltam menos de 20%. Depois de tratada, a água vai para a baía completamente desinfectada.

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